Ele- Sou eu.
Ela- Eu quem?
Ele- Você sabe quem.
Ela- Hm, o que você quer?
Ele- Além de você?
Ela- Lógico.
Ele- Ouvir tua voz.
Ela- Já são onze e meia da noite!
Ele- E desde quando você se importa com a hora que te ligo?
Ela- Desde quando terminamos.
Ele- Hm...
Ela- Não te entendo.
Ele- Nem eu. Mas sei do que gosto, e gosto da sua voz.
Ela- Você me acordou.

Ele- Eu percebi. Vê? Por isso que gosto da sua voz. Ela acaba me deixando mais perto de ti...
Ela- Pois pra mim nunca esteve tão longe.
Ele- Tudo depende do ponto de vista.
Ele- E o meu não está nada favorável.
Ele- Nunca foi. Mas sou extremamente chato e insisto naquela coisinha que chamam de amor.
Ela- Amor? Meu amor sempre foi solitário. Você nunca me disse sequer um “Eu te amo”.
Ele- Eu te amo.
Ela- Prepotente.
Ele- Ainda te amo.
(Risadas.)
Ele- E eu ainda a faço rir, também.
Ela- Faz.
Ele- Ponto pra mim.
Ela- Você está com um placar bem negativo.
Ele- Posso repetir que te amo a noite inteira.
Ela- Não. Não pode.
Ele- Tem razão. Desvalorizaria a expressão. Pois saiba que o meu “Eu te amo” foi único e está em alta na bolsa de valores.
Ela- Não te entendo...
Ele- Não tente. Gosto da idéia de ser uma caixinha de surpresas, assim como és pra mim.
Ela- Mas eu não gosto e preciso muito ir dormir.
Ele- Certo. Bons sonhos.
Ela- Pra ti também.
Ele- Tento.
Ela- E, Dave...
Ele- Sim?
Ela- Eu te amo. Mas não gosto de você.
Por fim, o silêncio.
E agora ele já não se agüentava de tanta ansiedade. Ela se aproximava gradualmente, tornando possível um reconhecimento prévio de todos os detalhes de seu corpo. Ah, decerto era a sua garota! Da pele tão clara que parecia emanar uma claridade suave e encantadora. De tamanha delicadeza que parecia encher o ar com a mais densa fragilidade... Ele inalava-a obediente, mas por que ela o estava sufocando?